Tristeza profunda é fator de risco para doenças cardíacas
A depressão, moderada ou grave, está para ser incluída como uma das causas do agravamento de problemas cardíacos e pode culminar no infarto do miocárdio. “Há muito tempo, cientistas já classificam a tristeza profunda como um fator de risco para doenças cardíacas, porém agora os estudos estão mais conclusivos”, explica a Cardiologista, especialista em arritmologia, Adriana Taboada, integrante da equipe médica da Clínica ADS.
A médica refere-se a um estudo divulgado no encontro EuroheartCare, realizado pela Sociedade Européia de Cardiologia na Noruega há dois anos. Durante 11 anos, foram monitorados os estados psíquico e físico (com dados sobre o índice de massa muscular, atividade física, tabagismo e pressão arterial) de 63 mil dos 97 mil moradores da região norueguesa de Nord-Trondelag. Os dados apurados foram relacionados com as internações e mortes por insuficiência cardíaca.
A conclusão dos pesquisadores foi que quanto mais intensos os sintomas depressivos, maior o risco de sofrer problemas cardíacos. As vítimas de depressão moderada a severa apresentaram aumento de 40% no risco de sofrer insuficiência cardíaca. Entre os pacientes com depressão menos grave, a possibilidade de desenvolver problemas cardíacos era apenas 5% superior à média.
“Pacientes depressivos apresentam desequilíbrio metabólico (hormonal, distúrbios em neurotransmissores), característico desse distúrbio psíquico, e isso afeta a saúde do coração”, explica Adriana Taboada. Trabalhos sobre os efeitos da depressão nas cardiopatias já haviam sido apresentados, mas a pesquisa recente é mais abrangente, segundo a médica.
O trabalho dá um passo além ao relacionar essa doença psiquiátrica com um âmbito mais extenso das lesões cardiovasculares, como é o caso da insuficiência cardíaca, o estágio final de muitas cardiopatias, que se apresenta quando o coração é incapaz de bombear o sangue com força suficiente. “A origem da insuficiência cardíaca é muito diversa, podendo estar ligada a um infarto, a problemas com as válvulas cardíacas ou a um quadro de diabetes ou hipertensão em pacientes com evolução prolongada”, afirma a médica.
Estilo de vida – A literatura médica, até agora, indicava efeitos indiretos da depressão sobre a saúde do coração. “A depressão severa é identificada pela tristeza, a apatia e a desesperança dos doentes, inclusive com ideias de morte e suicídio nos casos mais graves. Esse estado de ânimo afeta o estilo de vida dos pacientes. Se precisarem ser medicados, é fácil que deixem de fazê-lo ou esqueçam doses. Além disso, costumam fumar mais, comer pior, praticar menos ou nada de exercícios físicos e adquirir mais peso”, declara.
Após excluir os efeitos potenciais do tabagismo e da obesidade nas pessoas analisadas, o trabalho destaca outros fatores diretos que vinculam a depressão à insuficiência cardíaca. “A depressão estimula a aparição de hormônios vinculados ao estresse, que induzem a aparição de fenômenos inflamatórios ou aterosclerose [a deterioração das paredes arteriais, num processo que pode provocar um infarto]”, cita a Dra. Adriana.
É um pouco parecido com o que acontece com a raiva, que provoca uma brusca descarga de catecolaminas (hormônios associados ao estresse) e causa impactos na pressão, lesões nas paredes arteriais, além de efeitos diretos sobre o coração (aumento da frequência cardíaca, maior suscetibilidade a arritmias e remodelamento do músculo cardíaco). “Associa-se esse aumento do tônus simpático [do sistema nervoso] a um maior risco de infarto e AVC”. A alteração hormonal ligada à depressão explicaria um fenômeno similar nessas pessoas.
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