O tratamento oncológico e os cuidados com o coração

Proporcionar maior segurança cardiovascular aos pacientes em tratamento oncológico. Este é o objetivo da cardio-oncologia, especialidade médica que tem se mostrado essencial para o sucesso do tratamento de pacientes que lutam contra o câncer.

Vamos entender um pouco mais sobre o assunto e compreender como os cuidados com a saúde do coração está diretamente ligado ao paciente em tratamento oncológico.

Doenças cardiovasculares e o tratamento oncológico: qual a relação?

“Para entender a relação entre o câncer e a saúde do coração, é preciso maiores esclarecimentos. Embora os avanços da quimioterapia e da radioterapia tenham melhorado muito a qualidade e a expectativa de vida das pessoas com câncer, observa-se também que vários pacientes oncológicos apresentam problemas cardiovasculares. Estes, por sua vez resultantes da cardiotoxicidade dos medicamentos utilizados.” explica a cardiologista, responsável pelo serviço de Cardio-Oncologia* da Clínica ADS, Eline Lôbo.

Na realidade, muitos pacientes oncológicos já apresentam doenças cardiovasculares antes do câncer. Assim, o controle rigoroso das condições pré-existentes algo que otimiza os resultados e o sucesso da terapia anticâncer. Porém, pacientes que antes eram saudáveis podem ser afetados pela cardiotoxicidade do tratamento. “Alguns quimioterápicos podem ter até 30% de cardiotoxicidade, a depender da dose utilizada”, diz a especialista.

A dona de casa Márcia Roose, de 62 anos, não tinha nenhuma doença cardíaca antes de ser diagnosticada com um câncer de mama bilateral. No entanto, os medicamentos utilizados por ela no tratamento contra a doença desenvolveram cardiotoxicidade. Ao ser acompanhada por um serviço de Cardio-Oncologia, a detecção precoce de uma insuficiência cardíaca permitiu antecipar intervenções clínicas fundamentais para evitar maiores danos. Atualmente, tanto a saúde do coração quanto o câncer encontram-se estáveis na paciente.

Como os efeitos colaterais podem interferir?

Entre os efeitos colaterais mais importantes causados por medicamentos utilizados destacam-se lesões diretas do músculo cardíaco. Arritmias (alterações do ritmo cardíaco), isquemias (redução de fluxo sanguíneo nos vasos cardíacos) e hipertensão arterial são os mais comuns. Diante deste cenário, faz-se necessária a presença do cardiologista constituindo um serviço de Cardio-Oncologia em parceria com o oncologista. Assim, é possível garantir a prevenção, detecção precoce de alterações cardíacas antes, durante e após o tratamento oncológico. Há também o monitoramento, acompanhamento e intervenções especializadas nas doenças cardiovasculares.

Quais os exames mais utilizados?

“Nosso objetivo é garantir uma melhor evolução dos pacientes oncológicos por meio de consultas clínicas regulares e exames específicos. O intuito de identificar alterações cardíacas, mesmo que em estágios iniciais”, resume Eline Lôbo.  Um dos importantes exames utilizados pela especialista no diagnóstico é o Ecocardiograma com técnica de Strai. Um tipo de ultrassonografia do coração que utiliza um software especializado em detectar mínimas modificações na função do coração. É bastante eficiente, pois permite identificar o problema antes mesmo que os sintomas apareçam ou que o Ecocardiograma convencional o perceba.

Também é comumente solicitado pela cardiologista o exame de sangue para detecção da Troponina I, que funciona como um marcador bioquímico precoce de lesão cardíaca. “Esta proteína, se encontrada no sangue, indica dano celular, podendo predizer com bastante antecedência o risco de um dano grave ao coração. A partir disso, podemos direcionar o tratamento do paciente para evitar a instalação da insuficiência cardíaca. Então, quanto antes cuidarmos do coração do paciente oncológico, menores os riscos”, detalha Eline Lôbo.

A médica destaca, ainda, que o controle de fatores de risco como o tabagismo, alimentação inadequada e sedentarismo, precisa ser rigoroso. “Além disso, quando descobrem o câncer, muitos pacientes negligenciam o tratamento das doenças cardiovasculares pré-existentes, como a hipertensão. Porém, isso não pode acontecer”, conclui.

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